domingo, 29 de junho de 2025

ÉTICA NOS NEGÓCIOS

O caso DM9: refletindo do ponto de vista ético e econômico.

Se prepara, pois lá vem um textão - em número de linhas, registre-se. 



ÉTICA

Ética é como engenharia elétrica. Sim, você não leu errado, a pessoa pode ser um grande engenheiro eletricista e morar numa casa cheia de fios desencapados. A pessoa pode dominar os fundamentos e não ter uma conduta ética. Acho que a semelhança acaba aí.

Ética é nossa inteligência aplicada ao convívio em sociedade. Mas conviver considerando uma perspectiva harmônica, que seja boa para todos.

Quebrar essas regras construídas em conjunto, que visam o melhor convívio, não é a forma ética de agir. É olhar para si e se esquecer de olhar para o todo. 

Importante frisar que as instituições, e a DM9 é uma instituição, terem seus próprios códigos ética, publicados ou não, as instituições são feitas por pessoas. Além disso, as empresas integram um ecossistema, que também possui regras e combinados próprios. 

Assim, do ponto de vista ético, há sim que se questionar se a DM9 sabia ou não do que estava acontecendo. Temos que avaliar se a DM9 teria poder de alterar uma conduta comum do mercado em que atua. Como uma grande empresa, pode muito - mas não pode tudo.

Também é importante destacar que tudo que aconteceu só aconteceu porque pessoas agiram como agiram. Certamente pessoas de "alta patente", seja da agência, seja do cliente - no caso, a Consul

CPFs, e não CNPJs, agem. De maneira ética, ou não.

Assim, seja do ponto de vista ético ou até do ponto de vista legal, as pessoas envolvidas precisam ter suas ações avaliadas, respeitando o contexto em que agiram. Os desdobramentos para os CPFs precisam ter o rigor do peso de suas ações. Mas sem esquecer que, humanos que somos, temos que ter a oportunidade de recomeçar. 

As respostas que promovem o cancelamento dos envolvidos não me parecem razoáveis. CPFs também tem famílias, amigos e boletos a pagar.


ECONOMIA 

Já encerrando meu textão, tudo que falei sobre priorizar a responsabilização dos CPFs (pessoas), não quer dizer que os CNPJs estejam totalmente blindados. 

Multas, restrições e outras sanções podem ser aplicadas às instituições. O que devemos evitar é a inviabilização de negócios. Empresas têm funcionários e toda uma cadeia de fornecedores, que também geram muitos e muitos empregos. Vimos isso acontecer recentemente com a engenharia brasileira

Enfim, temos que tratar das pragas, mas pensando sempre em manter o jardim vivo.

Era isso, espero ter agregado à discussão.


Observações:

1) Aqui não analiso a ocorrência envolvendo a DM9 e a premiação do Leão de Ouro de Cannes. Apenas me valho do fato para fazer uma reflexão.

2) Compreendi um pouco sobre o conceito de ética lendo e assistindo o professor Clóvis de Barros Filho. Recomendo muito. 

3) Se quiser entender o que aconteceu, recomendo essa matéria da EXAME: https://exame.com/marketing/dm9-perde-grand-prix-em-cannes-apos-uso-de-ia-em-video-de-case

sábado, 14 de junho de 2025

Ricos, milionários, porcos e miseráveis

Uma breve reflexão decorrente da troca de bombas entre Israel e Irã. 

Bom dia, boa tarde ou boa noite. Durma com um barulho desse.
















Imagem real. Seria lindo, se não fosse uma guerra.

Materialmente falando, é impossível que todos sejam ricos, mais especificamente multimilionários, e as razões são duas. 

Em primeiro lugar, não tem recurso a ser dividido com todos para que todos tenham um iate e uma casa com campo de golfe. Somos bilhões e o planeta, por maior que seja, é um só. 

Em segundo lugar, para uma parte significativa da população, ser rico não é apenas ter bastante. Para esses, ser rico é ter mais do que os outros. E aí, mesmo que fosse possível distribuir a riqueza direitinho, muita gente ia ter que ficar de fora da conta. E não apenas para manter essa distinção entre ricos e pobres, mas também porque um rico que se preze precisa de um garçom para trabalhar no seu iate. 

Trump, Netanyahu, Bolsonaro e seus asseclas sabem disso. Essa é a luta. Não que eles odeiem pobres, mas alguém precisa cuidar da grama do campo de golfe.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

A imanência em Belchior

Belchior, sinônimo de gênio. Sim, talvez eu esteja exagerando. Mas, como diria um outro cantor genial, eu sou mesmo exagerado!

Fanatismos à parte, a obra de Belchior é repleta de frases que nos rementem a discussões filosóficas de alto nível. Vejamos o que nos diz esse pequeno trecho de Alucinação, um dos primeiros grandes sucessos do ilustre cearense:
Essa treta é velha, uma rixa antiga dos tempos de Parmênides e Heráclito, esses dois gregos que vieram antes de Sócrates. Enquanto o primeiro defendia que nossa essência não se altera, o segundo entendia que nossa essência era justamente a transformação, o vir a ser.

Passa Parmênides e Heráclito, pula Sócrates e chegamos a Platão e Aristóteles. Esses 2 gigantes da filosofia trouxeram muito mais lenha para essa fogueira. Platão dizia que a essência das coisas não estariam nelas mesmas e sim na ideia de cada coisa. Assim, para ele, a existência teria duas perspectivas: uma concreta, do mundo real e sensível e outra não material, do mundo das ideias e inteligível, sendo essa segunda, de uma certa maneira, prevalente sobre a primeira. Temos em Platão o conceito de transcendência.

Aristóteles diverge de Platão, ao apresentar argumentos lógicos que invalidam esse conceito de transcendência. Se as coisas existissem de fato em 2 perspectivas, deveria haver, portanto uma conexão entre a coisa e a ideia da coisa. Assim, em havendo essa conexão a coisa e a ideia da coisa, elas seriam, em verdade, uma coisa só.

Voltemos a Belchior. Em especial para o trecho de Alucinação.

Quando ele diz não estar interessado em nenhuma "tioria", entendo eu que temos uma crítica à dualidade platônica, o que é reforçado quando ele completa a frase afirmando sua "alucinação é suportar o dia a dia" e que o seu "delírio é a experiência com coisas reais".

Assim, para esse humilde ser pensante que vos fala, Belchior estava fechado com Aristóteles.

E você, o que me diz?

terça-feira, 13 de outubro de 2020

O MUNDO DE SOFIA

Ontem acabei de ler o livro O MUNDO DE SOFIA. Talvez não tenha sido o melhor livro que eu já li, mas certamente foi um dos mais importantes. Leitura para o público juvenil, mas que fez todo sentido a este quarentão aqui. A história e o enredo são muito bem tramados, mas o pano de fundo é o grande ponto desse livro espetacular: a história da filosofia. Dos gregos antigos até a filosofia moderna, o autor apresenta as principais linhas do pensamento filosófico ocidental de maneira clara, tornando a compreensão mais fácil até para um ser humano como eu: ridículo, limitado e que usa 10% da cabeça animal. Apesar o texto fácil e envolvente, a leitura torna-se um pouco mais densa em alguns pontos (Kant, Aristóteles e alguns outros filósofos não são necessáriamente fáceis de entender) e as 550 páginas do livro são um outro desafio. Demorei quase 2 anos para terminar, mas valeu cada linha. Foram períodos longos longe do livro, mas nunca mentalmente desconectado dele. A trama sutilmente resgata um importante ponto de discussão da história da filosofia: a conexão entre Hilde e Sofia remonta a discussão da linha dividida de Platão e a contraposição de Aristóteles, não muito satisfeito com essas transcendência. Enfim, ainda estou intrigado com tanta informação apreendida. Obviamente me sinto muito mais capaz de entender algumas questões fundamentais questões que permeiam nossas vidas. Porém, parafraseando Sócrates, reconheço toda minha ignorância e digo: SÓ SEI QUE NADA SEI.

quinta-feira, 7 de maio de 2020

domingo, 3 de maio de 2020

O maravilhoso mundo de doxa

Pra quem você empresta seus ouvidos? Você analisa criticamente o que entra por eles? Que mecanismos você utiliza para que sua opinião seja formada de uma maneira consistente?

Uma questão de grande utilidade prática que o estudo da filosofia nos trás, diz respeito às distinções e interações entre doxa, dogma e episteme.

Grosso modo, episteme diz respeito ao conhecimento da verdade, ao conhecimento metodologicamente construído. Episteme diz respeito à ciência.

dogma se refere ao conhecimento da verdade através da fé, da crença. Tem a ver com aceitar, não questionar. Dogma reina no campo teológico, mas tb em outros como a política, por exemplo.

Assim, formando um tripé, temos a famigerada doxa. Aliás, tenho revisto minha opinião sobre ela, por mais paradoxal que seja ter uma opinião sobre a opinião - ops, dei spoiler... Mas enfim, se vc percebeu o detalhe, não encare esse texto como um artigo, ou algo baseado em pesquisas acadêmicas. Aqui apresento minha opinião, meu achar, meu entender. No meu caso, essa opinião está baseada em livros, vídeo-aulas e conversas com gente que já estudou mais ou menos do que eu - ops, spoiler de novo!


Vamos lá, nos livros em que estudei li algumas vezes que o pensamento filosófico nasce na Grécia antiga num contraponto a ela, a doxa. Doxa que pode ser entendida como sinônimo de opinião. Quando na Grécia o mundo se encontrava para fazer negócios e os mercadores conversavam a respeito das coisas do mundo, era natural haver divergência, por exemplo nas explicações para a ocorrência de um raio. Um nórdico diria que era obra de Thor e um oriental diria que sua causa era outra.

Então aí aparece Tales e a humanidade começa a buscar no mundo natural as explicações das coisas do mundo natural - por mais estranhas que elas fossem, quando olhamos no retrovisor da história. Um raio, a chuva, as estações do ano e tudo que acontece teria que ter uma explicação no âmbito do próprio mundo das coisas e não do mundo das crenças.

Aí entra uma questão (e eu preciso conversar com alguém mais sabido a respeito, até mesmo para confirmar esse entendimento). O problema não era simplesmente se contrapor a doxa. O negócio seria estabelecer uma contribuição a doxa, até então fortemente apoiada em dogma. Há 2.600 anos atrás, episteme ainda estava nascendo e o pensamento dogmático influenciava fortemente as opiniões mundo afora.

AGORA PULA
Voltemos ao hoje, nesse mundo onde a ciência se desenvolveu e continua a se desenvolver, mas ainda convive com relativa harmonia com o pensamento dogmático-religioso.

Em nossas interações reais ou virtuais é comum menosprezarmos as considerações de nossos interlocutores taxando-as de mera "opinião". Obviamente, em um mundo com tanto saber acumulado na forma de ciência, as opiniões valem tanto quanto uma nota de 101 reais. Mas, ainda assim, elas, as opiniões, tem uma grande importância em nossa vida cotidiana.

Quando vamos escolher o pão mais adequado para nossa dieta, quando vamos escolher um carro ou até mesmo quando vamos escolher nossos governantes, não tem jeito, via de regra é ela que entra em jogo: doxa.

E qual é o problema disso? A rigor nenhum, mas temos que tomar cuidado com as armadilhas de dogma, que ainda faz muito barulho - aliás, ultimamente tem feito mais barulho do que o razoável. Quando nossas opiniões sobre assuntos para os quais a comunidade científica tem consensos claros são fundamentadas em crenças, estamos perigosamente próximos do obscurantismo.

A questão é que não dá pra ter diplomas de nutricionista, engenharia e ciências políticas para decidirmos sobre o pão, o carro e o presidente que iremos escolher. Será doxa, ela que vai operar. Mas isso não significa dizer que tenhamos que nos render a essa limitação.

Você não é engenheiro, mas na hora de comprar um carro, liga praquele amigo que é. Você não é nutricionista, mas quando for escolher o melhor pão, vai numa consulta ou leia uma revista especializada. Você não é cientista político, mas na hora de votar, se informe. Leia jornais, revistas, explore os diversos campos do pensamento e tenha cuidado, muito cuidado, com as já famosas fakenews.

Pra quem você empresta seus ouvidos?

sexta-feira, 27 de março de 2020

Cara ou coroa

Política. Economia. Radicais.

Em tempos terraplanistas, uma moeda pode ser a analogia perfeita. De um lado cara, do outro coroa. Sem espaços para meio-termo ou sensatez. Ousar ocupar esse espaço é dar margem a ser chamado, sarcasticamente, de "isentão".

Como se houvesse apenas duas opções para entrincheirar nossas opiniões, entendimentos e saberes. Mas observe o tiroteio caótico, cada vez mais caótico, de opiniões, entendimentos e saberes. É bala vindo de tudo que é lado.

Ainda assim, no Brasil de hoje só existem 2 carimbos para marcar pessoas e suas ideias: comunista-petista e bolsonarista-fascista. Ficar entre essas trincheiras é a certeza de levar muita bala.

Na moeda da terra plana, não ouse ponderar. No centro o tiro pode vir de qualquer lugar.