terça-feira, 13 de outubro de 2020
O MUNDO DE SOFIA
Ontem acabei de ler o livro O MUNDO DE SOFIA. Talvez não tenha sido o melhor livro que eu já li, mas certamente foi um dos mais importantes. Leitura para o público juvenil, mas que fez todo sentido a este quarentão aqui. A história e o enredo são muito bem tramados, mas o pano de fundo é o grande ponto desse livro espetacular: a história da filosofia.
Dos gregos antigos até a filosofia moderna, o autor apresenta as principais linhas do pensamento filosófico ocidental de maneira clara, tornando a compreensão mais fácil até para um ser humano como eu: ridículo, limitado e que usa 10% da cabeça animal.
Apesar o texto fácil e envolvente, a leitura torna-se um pouco mais densa em alguns pontos (Kant, Aristóteles e alguns outros filósofos não são necessáriamente fáceis de entender) e as 550 páginas do livro são um outro desafio. Demorei quase 2 anos para terminar, mas valeu cada linha. Foram períodos longos longe do livro, mas nunca mentalmente desconectado dele.
A trama sutilmente resgata um importante ponto de discussão da história da filosofia: a conexão entre Hilde e Sofia remonta a discussão da linha dividida de Platão e a contraposição de Aristóteles, não muito satisfeito com essas transcendência.
Enfim, ainda estou intrigado com tanta informação apreendida. Obviamente me sinto muito mais capaz de entender algumas questões fundamentais questões que permeiam nossas vidas. Porém, parafraseando Sócrates, reconheço toda minha ignorância e digo: SÓ SEI QUE NADA SEI.
domingo, 3 de maio de 2020
O maravilhoso mundo de doxa
Pra quem você empresta seus ouvidos? Você analisa criticamente o que entra por eles? Que mecanismos você utiliza para que sua opinião seja formada de uma maneira consistente?
Uma questão de grande utilidade prática que o estudo da filosofia nos trás, diz respeito às distinções e interações entre doxa, dogma e episteme.
Grosso modo, episteme diz respeito ao conhecimento da verdade, ao conhecimento metodologicamente construído. Episteme diz respeito à ciência.
Já dogma se refere ao conhecimento da verdade através da fé, da crença. Tem a ver com aceitar, não questionar. Dogma reina no campo teológico, mas tb em outros como a política, por exemplo.
Assim, formando um tripé, temos a famigerada doxa. Aliás, tenho revisto minha opinião sobre ela, por mais paradoxal que seja ter uma opinião sobre a opinião - ops, dei spoiler... Mas enfim, se vc percebeu o detalhe, não encare esse texto como um artigo, ou algo baseado em pesquisas acadêmicas. Aqui apresento minha opinião, meu achar, meu entender. No meu caso, essa opinião está baseada em livros, vídeo-aulas e conversas com gente que já estudou mais ou menos do que eu - ops, spoiler de novo!
Vamos lá, nos livros em que estudei li algumas vezes que o pensamento filosófico nasce na Grécia antiga num contraponto a ela, a doxa. Doxa que pode ser entendida como sinônimo de opinião. Quando na Grécia o mundo se encontrava para fazer negócios e os mercadores conversavam a respeito das coisas do mundo, era natural haver divergência, por exemplo nas explicações para a ocorrência de um raio. Um nórdico diria que era obra de Thor e um oriental diria que sua causa era outra.
Então aí aparece Tales e a humanidade começa a buscar no mundo natural as explicações das coisas do mundo natural - por mais estranhas que elas fossem, quando olhamos no retrovisor da história. Um raio, a chuva, as estações do ano e tudo que acontece teria que ter uma explicação no âmbito do próprio mundo das coisas e não do mundo das crenças.
Aí entra uma questão (e eu preciso conversar com alguém mais sabido a respeito, até mesmo para confirmar esse entendimento). O problema não era simplesmente se contrapor a doxa. O negócio seria estabelecer uma contribuição a doxa, até então fortemente apoiada em dogma. Há 2.600 anos atrás, episteme ainda estava nascendo e o pensamento dogmático influenciava fortemente as opiniões mundo afora.
AGORA PULA
Voltemos ao hoje, nesse mundo onde a ciência se desenvolveu e continua a se desenvolver, mas ainda convive com relativa harmonia com o pensamento dogmático-religioso.
Em nossas interações reais ou virtuais é comum menosprezarmos as considerações de nossos interlocutores taxando-as de mera "opinião". Obviamente, em um mundo com tanto saber acumulado na forma de ciência, as opiniões valem tanto quanto uma nota de 101 reais. Mas, ainda assim, elas, as opiniões, tem uma grande importância em nossa vida cotidiana.
Quando vamos escolher o pão mais adequado para nossa dieta, quando vamos escolher um carro ou até mesmo quando vamos escolher nossos governantes, não tem jeito, via de regra é ela que entra em jogo: doxa.
E qual é o problema disso? A rigor nenhum, mas temos que tomar cuidado com as armadilhas de dogma, que ainda faz muito barulho - aliás, ultimamente tem feito mais barulho do que o razoável. Quando nossas opiniões sobre assuntos para os quais a comunidade científica tem consensos claros são fundamentadas em crenças, estamos perigosamente próximos do obscurantismo.
A questão é que não dá pra ter diplomas de nutricionista, engenharia e ciências políticas para decidirmos sobre o pão, o carro e o presidente que iremos escolher. Será doxa, ela que vai operar. Mas isso não significa dizer que tenhamos que nos render a essa limitação.
Você não é engenheiro, mas na hora de comprar um carro, liga praquele amigo que é. Você não é nutricionista, mas quando for escolher o melhor pão, vai numa consulta ou leia uma revista especializada. Você não é cientista político, mas na hora de votar, se informe. Leia jornais, revistas, explore os diversos campos do pensamento e tenha cuidado, muito cuidado, com as já famosas fakenews.
Pra quem você empresta seus ouvidos?
Uma questão de grande utilidade prática que o estudo da filosofia nos trás, diz respeito às distinções e interações entre doxa, dogma e episteme.
Grosso modo, episteme diz respeito ao conhecimento da verdade, ao conhecimento metodologicamente construído. Episteme diz respeito à ciência.
Já dogma se refere ao conhecimento da verdade através da fé, da crença. Tem a ver com aceitar, não questionar. Dogma reina no campo teológico, mas tb em outros como a política, por exemplo.
Assim, formando um tripé, temos a famigerada doxa. Aliás, tenho revisto minha opinião sobre ela, por mais paradoxal que seja ter uma opinião sobre a opinião - ops, dei spoiler... Mas enfim, se vc percebeu o detalhe, não encare esse texto como um artigo, ou algo baseado em pesquisas acadêmicas. Aqui apresento minha opinião, meu achar, meu entender. No meu caso, essa opinião está baseada em livros, vídeo-aulas e conversas com gente que já estudou mais ou menos do que eu - ops, spoiler de novo!
Vamos lá, nos livros em que estudei li algumas vezes que o pensamento filosófico nasce na Grécia antiga num contraponto a ela, a doxa. Doxa que pode ser entendida como sinônimo de opinião. Quando na Grécia o mundo se encontrava para fazer negócios e os mercadores conversavam a respeito das coisas do mundo, era natural haver divergência, por exemplo nas explicações para a ocorrência de um raio. Um nórdico diria que era obra de Thor e um oriental diria que sua causa era outra.
Então aí aparece Tales e a humanidade começa a buscar no mundo natural as explicações das coisas do mundo natural - por mais estranhas que elas fossem, quando olhamos no retrovisor da história. Um raio, a chuva, as estações do ano e tudo que acontece teria que ter uma explicação no âmbito do próprio mundo das coisas e não do mundo das crenças.
Aí entra uma questão (e eu preciso conversar com alguém mais sabido a respeito, até mesmo para confirmar esse entendimento). O problema não era simplesmente se contrapor a doxa. O negócio seria estabelecer uma contribuição a doxa, até então fortemente apoiada em dogma. Há 2.600 anos atrás, episteme ainda estava nascendo e o pensamento dogmático influenciava fortemente as opiniões mundo afora.
AGORA PULA
Voltemos ao hoje, nesse mundo onde a ciência se desenvolveu e continua a se desenvolver, mas ainda convive com relativa harmonia com o pensamento dogmático-religioso.
Em nossas interações reais ou virtuais é comum menosprezarmos as considerações de nossos interlocutores taxando-as de mera "opinião". Obviamente, em um mundo com tanto saber acumulado na forma de ciência, as opiniões valem tanto quanto uma nota de 101 reais. Mas, ainda assim, elas, as opiniões, tem uma grande importância em nossa vida cotidiana.
Quando vamos escolher o pão mais adequado para nossa dieta, quando vamos escolher um carro ou até mesmo quando vamos escolher nossos governantes, não tem jeito, via de regra é ela que entra em jogo: doxa.
E qual é o problema disso? A rigor nenhum, mas temos que tomar cuidado com as armadilhas de dogma, que ainda faz muito barulho - aliás, ultimamente tem feito mais barulho do que o razoável. Quando nossas opiniões sobre assuntos para os quais a comunidade científica tem consensos claros são fundamentadas em crenças, estamos perigosamente próximos do obscurantismo.
A questão é que não dá pra ter diplomas de nutricionista, engenharia e ciências políticas para decidirmos sobre o pão, o carro e o presidente que iremos escolher. Será doxa, ela que vai operar. Mas isso não significa dizer que tenhamos que nos render a essa limitação.
Você não é engenheiro, mas na hora de comprar um carro, liga praquele amigo que é. Você não é nutricionista, mas quando for escolher o melhor pão, vai numa consulta ou leia uma revista especializada. Você não é cientista político, mas na hora de votar, se informe. Leia jornais, revistas, explore os diversos campos do pensamento e tenha cuidado, muito cuidado, com as já famosas fakenews.
Pra quem você empresta seus ouvidos?
sexta-feira, 27 de março de 2020
Cara ou coroa
Política. Economia. Radicais.
Em tempos terraplanistas, uma moeda pode ser a analogia perfeita. De um lado cara, do outro coroa. Sem espaços para meio-termo ou sensatez. Ousar ocupar esse espaço é dar margem a ser chamado, sarcasticamente, de "isentão".
Como se houvesse apenas duas opções para entrincheirar nossas opiniões, entendimentos e saberes. Mas observe o tiroteio caótico, cada vez mais caótico, de opiniões, entendimentos e saberes. É bala vindo de tudo que é lado.
Ainda assim, no Brasil de hoje só existem 2 carimbos para marcar pessoas e suas ideias: comunista-petista e bolsonarista-fascista. Ficar entre essas trincheiras é a certeza de levar muita bala.
Na moeda da terra plana, não ouse ponderar. No centro o tiro pode vir de qualquer lugar.
Em tempos terraplanistas, uma moeda pode ser a analogia perfeita. De um lado cara, do outro coroa. Sem espaços para meio-termo ou sensatez. Ousar ocupar esse espaço é dar margem a ser chamado, sarcasticamente, de "isentão".
Como se houvesse apenas duas opções para entrincheirar nossas opiniões, entendimentos e saberes. Mas observe o tiroteio caótico, cada vez mais caótico, de opiniões, entendimentos e saberes. É bala vindo de tudo que é lado.
Ainda assim, no Brasil de hoje só existem 2 carimbos para marcar pessoas e suas ideias: comunista-petista e bolsonarista-fascista. Ficar entre essas trincheiras é a certeza de levar muita bala.
Na moeda da terra plana, não ouse ponderar. No centro o tiro pode vir de qualquer lugar.
Confuso
A situação fica a cada dia mais dramática. Exponencialmente dramática. Dramaticamente dramática.
Me lembrei agora do Papa João Paulo II. Pop. Gostava dele, mas não conheço bem a sua história. Hj a gente só pode gostar de pessoas perfeitas e não sei onde, como e quantas vezes ele errou. Mas me senti minimamente reconfortado ao olhar sua foto. Como me senti ao ver o Papa Francisco rezando sua missa no Vaticano vazio. Não sou católico e também não acredito em Deus. Pelo menos não da mesma forma que a maioria acredita. Só que esses dois Papas me ajudam a buscar uma força não sei onde pra enfrentar esses tempos confusos.
Dramaticamente confusos.
[covid19]
Me lembrei agora do Papa João Paulo II. Pop. Gostava dele, mas não conheço bem a sua história. Hj a gente só pode gostar de pessoas perfeitas e não sei onde, como e quantas vezes ele errou. Mas me senti minimamente reconfortado ao olhar sua foto. Como me senti ao ver o Papa Francisco rezando sua missa no Vaticano vazio. Não sou católico e também não acredito em Deus. Pelo menos não da mesma forma que a maioria acredita. Só que esses dois Papas me ajudam a buscar uma força não sei onde pra enfrentar esses tempos confusos.
Dramaticamente confusos.
[covid19]
domingo, 22 de março de 2020
Hiperconexão
Não alimente o bicho
Que habita seu interior
Jogue fora o lixo
E tudo mais que traga dor
Tome um banho, escova o dente
Faça a barba todo dia
Cuida também da mente
Não a deixe ficar vazia
Cuidado com o que lê
E também com o que diz
Filtre tudo antes de crer
Mas desliga um pouco, vai ser feliz
Guilherme Poetzscher
22.03.2020
Não alimente o bicho
Que habita seu interior
Jogue fora o lixo
E tudo mais que traga dor
Tome um banho, escova o dente
Faça a barba todo dia
Cuida também da mente
Não a deixe ficar vazia
Cuidado com o que lê
E também com o que diz
Filtre tudo antes de crer
Mas desliga um pouco, vai ser feliz
Guilherme Poetzscher
22.03.2020
Assinar:
Comentários (Atom)
