domingo, 20 de outubro de 2019

Somos quem podemos ser?

Eu tinha 12 anos. Talvez 11. Não, acho que eu tinha 12 anos mesmo e cursava a sexta série do ginásio no Colégio Nobel. Eu era pequeno e magro. Na minha sala havia caras maiores do que eu. Logo percebi que se se quisesse ser alguém minimamente visível na hora do intervalo (com 12 anos já não chamavamos o recreio de recreio) eu teria que ter um diferencial e, já que não dava pra contar com a musculatura, e notas mais altas do que os 6 e 7 que eu tirava tranquilamente talvez surtissem o efeito contrário - nenhum adolescente quer ser visto como um CDF. Só me restava ser uma cara descolado.

No final dos anos 80 o rock nacional estava com tudo. Três bandas dominavam o cenário: Legião Urbana, Titãs e Paralamas do Sucesso. Fora o Ira!, Barão Vermelho de Cazuza, Raul Seixas, Rita Lee, algumas outras bandas de uma música só e alguma outra que eu tenha me esquecido. O sucesso era tão grande que tinha até rock na abertura de novelas e também no programa Globo de Ouro. Lá as bandas e cantores se apresentavam fazendo playback na cara dura. O rock foi a ferramenta para que eu saísse da infância e estreiasse na adolescência em grande estilo.

Uma das bandas que vez ou outra aparecia no Globo de Ouro chamava-se Engenheiros do Hawaii e eles sempre tocavam uma música melosa chamada "Somos quem podemos ser". Aquela música grudou em meu ouvido, mas sem um desdobramento maior. Até que um dia, provavelmente num sábado, estava com meus pais e meus irmãos no Shopping Itaigara, na loja Aky Discos, quando Norminho, meu irmão mais velho me sugeriu algo: pedir para que meu pai me comprasse uma fita cassete dos Engenheiros do Hawaii. Na verdade ele já tinha pedido uma pra ele e tentou emplacar através de mim a compra dessa fita que ele queria. Ele falou algo tipo "essa fita é daquela banda que toca aquela música no Globo de Ouro". Pedi e ganhei a fita.

Para azar de Norminho eu de fato tomei posse da fita. E para azar duplo dele, eu me apossei tanto da fita que a ouvia sem parar, 10 vezes ao dia. Ouvia e gostava de todas as músicas, não apenas de "Somos quem podemos ser". Passei a ser referência no colégio de fã dos Engenheiros do Hawaii.

Caso você tenha lido essa história até aqui, talvez esteja se perguntando por que esse fato é tão marcante para mim. Hoje, olhando ora trás, vejo claramente que essa fita foi um divisor de águas na formação da minha personalidade. Depois dessa fita permaneci por algum tempo "roqueiro de uma banda só", mas depois vieram outras bandas e cantores favoritos. Fica também o registro para que meus filhos, quando forem mais velhos consigam entender um pouco a cabeça meio avoada do pai deles.

Como esse blog tem um viés fortemente voltado à discussão de questões filosóficas, por que cargas d'água eu venho aqui contar essa historinha? Explico a seguir. Será que, se não fosse essa experiência, esse encontro com essas música e essas ideias, eu teria me tornado quem eu sou hoje? Para quem crê em ideias inatas, a resposta seria sim. Para quem não crê no inatismo das ideias, a resposta seria sim.

Afinal, a gente já nasce com as coisas na cabeça e com o passar do tempo as ideias vão se cristalizando, ou a gente vai assimilando e incorporando novas à caixola a partir de nossas experiências?

Enfim, vamos parar por aqui antes que alguém queira me internar. Vejam abaixo o clipe de "Somos quem podemos ser". Aliás, o título dessa música dá uma boa discussão filosófica. Somos múltiplas possibilidades, ou somos apenas aquilo que nossa natureza determina?



quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Compartilhando uma publicação minha feita no LinkedIn há uns 5 meses:

Sobre LIDERANÇA e FILOSOFIA.

Esse não é um artigo científico. Trata-se de uma percepção minha após a leitura e releitura da Alegoria da Caverna de Platão (428 - 348 a.C.). Na verdade, estamos aqui no mundo de "doxa", das opiniões, que fique claro. Se julgar necessário complemente ou me corrija.

Nesse texto que apresenta um diálogo onde Sócrates expõe a situação de escravos que vivem acorrentados numa caverna e tudo que vêem são sombras projetadas na parede. Sombras de coisas que ficam atrás deles. O "real" para eles são as sombras e não as coisas que dão origem às sombras. Um desses escravos se liberta e sai da caverna. Após uma breve cegueira causada pela luminosidade, ele passa a observar os objetos que projetavam as sombras e decide voltar à caverna para libertar os outros escravos. O final dessa história vc acha em livros ou na internet, mas paro de contá-la por aqui.

Reparem que o escravo, agora homem livre e esclarecido, resolve voltar à caverna. Ele sai de sua "zona de conforto" e retorna às trevas. Platão caracteriza aí a missão político-pedagógica do filósofo. 

Não se assemelha essa missão àquilo que hoje em dia entendemos ser o papel de um LÍDER?

Obs.: Não a toa, cerca de 800 anos depois de Platão, Santo Agostinho (354 - 430 d.C.) utilizou-se desse ensinamento para reforçar a narrativa da liderança exercida por Jesus Cristo, ajudando a estruturar o Cristianismo na idade média.

domingo, 6 de outubro de 2019

A felicidade em perguntas


Quanta energia a gente gasta atrás de coisas que não nos trarão felicidade? Já se perguntou isso?

🤔

O que te faz feliz? Comprar um carro do ano? Sentir a brisa refrescante no rosto? Comer um Big Mac com uma Coca-Cola estupidamente gelada? Encontrar um velho amigo na fila do supermercado? Um pacote de 7 dias num cruzeiro all inclusive? E aí, o que te faz feliz? O que é que você faz que te dá mais energia vital? O que é que você faz que aquele velhinho ou velhinha que será você daqui a alguns anos vai se lembrar com orgulho? Boas perguntas, hein?


Se somos energia em busca de mais energia, que tal priorizar encontros e experiências que promovam ganho de energia? E que tal ver esse vídeo do professor Clóvis de Barros Filho que fala exatamente sobre isso?


Enfim, depois de tantas perguntas e nenhuma resposta, será que não podemos concluir que tem uma "metade" da felicidade que depende das nossas escolhas?







quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Infinito

Eu tinha uns 12 anos quando me deparei com aquela que foi talvez a minha primeira questão existencial, em plena aula de geometria.

Fiquei realmente encucado quando soube que uma reta, que não tem começo nem fim, tem infinitos pontos; assim como o segmento de reta, que mesmo tendo começo e fim, também tem infinitos pontos.

Não sei exatamente quando, mas em determinado momento de minha vida passei a fazer uma analogia diaso com a relação "Deus x Indivíduo". Se Deus é infinito, sendo ele todas as coisas, eu, mesmo sendo apenas uma dessas coisas, seria infinito também. Caberiam em mim tantos pontos quanto cabem em todo Universo. Eu seria, então, tão infinito quanto todo o Universo.

Passados 30 anos daquela aula de geometria, continuo intrigado. Se Deus está em tudo, logo ele está em mim também. Assim, mesmo diante de toda minha insignificância diante da grandeza do Universo, posso me considerar infinito também.

GUILHERME

Obs.:

1) Vejam esse vídeo sobre o Deus de Epinoza. Ah, veja esse vídeo também!

2) Aos 12 anos eu descobri Espinoza, sem saber.